Viajar é bom demais. E não tem jeito, quanto mais você planeja, mais as coisas ocorrem no seu próprio tempo. O começo da nossa viagem saindo de Natal já foi emocionante. A começar que nosso vôo foi cancelado sem maiores explicações e isso alterou nossos dois primeiros dias de viagem. Como a cada adversidade respondemos com jogo de cintura e bom humor, “bota na conta da TAP”, virou nosso primeiro gancho para gargalhadas. Depois que voltarmos ao Brasil, tudo que gastamos a mais por causa da companhia, vai para a ponta do lápis e espero que rendam milhas.
No nosso planejamento, sairíamos de Natal na madrugada do dia 3 de novembro, chegaríamos a Portugal ao meio dia e só embarcaríamos para Paris à noite – tudo perfeitamente calculado para um passeio no centro e uma passagem pelo Tejo. Nada feito. Com o cancelamento, chegamos a Portugal tarde da noite no dia 3/11 e a TAP colocou a gente em um hotel bacana. O problema é que para o mesmo hotel fomos nós duas e todo o restante do vôo cancelado. Resultado: filas. Fila para juntar todo mundo que saiu do vôo, fila para pegar o ônibus para o hotel e fila para fazer o check-in do quarto. Mas vai, estar em Portugal ouvindo pérolas portuguesas já é motivo de piada. Alguém já ouviu a expressão “vai dar uma curva”?! “Pôx béin”, segundo os portugueses, mandar alguém dar uma curva é o mesmo que pedir para pararem de encher seu saco. Será que foi daí que surgiu o tal “Vai ver se estou lá na esquina”?
Curioso também é começarmos a conversar com uma moça que nem sabíamos de onde tinha vindo e acharmos vários conhecidos em comum. Adriana, de passagem por Lisboa com destino a Milão, é paulista, parte da família mora em Natal e ainda por cima, é filha do melhor professor de gramática que eu já tive. Curioso também é não poder embarcar em vôo internacional com líquidos e a TAP colocar seus passageiros em uma conexão sem escova e pasta de dente. Nada de oferecerem para a gente durante o vôo e nada do hotel bacana pensar nisso para nós. E nadica de lojas abertas na hora que chegamos. Besteira, tínhamos a escova e nos faltava a pasta. Em compensação, tínhamos uma tal de Halls preta que dava momentaneamente a leve impressão de refrescância. Aliás, em viagem desde às 13h (saindo de Natal), comemos aquela comida estranha de avião e só. Tá com fome? Bota na conta da TAP, mas nesse caso, preferimos sentir uma fominha à pagar mais de 3 euros por um punhado de castanhas de caju do frigobar do hotel bacana. O frigobar não era na conta da TAP e só tivemos coragem de abrir uma água mineral que nos custou 3 euros.
No dia seguinte, depois de outras várias gargalhadas e café da manhã tomado, embarcamos para Paris. Ao chegarmos, nosso shuttle não estava porque o vôo chegou mais cedo do que o esperado. Nosso cartão telefônico não funcionava, o tempo passando e tivemos que recorrer àquele velho jeitinho brasileiro e conseguimos um telefone emprestado e ligamos para o shuttle nos pegar. A princípio, havíamos contratado o shuttle porque chegaríamos muito tarde a Paris e não teria mais ônibus. Com o cancelamento do vôo em cima da hora, não deu para cancelarmos o serviço. Bom, bota na conta ta TAP ;)
Aeroporto de Orly direto para a Gare de Lyon. Lindo, lindo, lindo! Aliás, o dia estava lindo e o tempo tipicamente outonal – friozinho e muito amarelo e laranja ao redor. Na Gare, outra adversidade. Com o cancelamento, perdemos nossas passagens do TGV para Aix-em-Provance que custaram 45 euros cada uma na compra antecipada pela internet. Lá na hora, além do desenrolar para nos comunicarmos em francês, tivemos que pagar $203,00 as duas. Também vai para a conta da TAP. Da hora da compra até o embarque tínhamos 20 minutos. Parece muito, mas para quem não conhece o local, pode ser motivo para perder a hora. Que bom não foi o nosso caso. Depois de comprarmos baguetes, croissantes e cappuccinos, corremos para o trem. Sim, tivemos que deixar os cappuccinos no caminho, afinal, não sei o que deu na nossa cabeça de tomar uma bebida quente estando com pressa e com malas para carregar.
Alguns S’il vous plait e mercis depois, chegamos aos nossos assentos. 3 horas depois, chegamos à Gare d’Aix-em-Provance, pegamos um ônibus, andamos alguns vários quarteirões com as malas e chegamos no hotel para encontrarmos nossas companheiras de viagem. E só aí, conseguimos escovar os dentes!
